GAL
farpas para um país sem lobbies
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© Pedro Medeiros
SINOPSE
GAL é uma leitura comentada d’ As Farpas de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão que em 1871 começaram
a editar uns libretos mensais, dando conta da vida de Portugal durante 12 anos.
A crítica à implacabilidade rude dessa vida claramente descrita e analisada
impele elasticamente em imediata concordância para os tempos sociopolíticos de
hoje, pelo que ninguém se livra de uma interpretação do vivido até às
entranhas, do tempo que insiste em reproduzir as falácias do passado, mas que
se quer libertar.
A contaminação impele a criação de comentários que se
remixam até à formulação do manifesto nómada. Enquanto acto de liberdade, o
manifesto homenageia o nomadismo como forma de vida marginal sem centro. É um
grito da máquina de guerra do germoplasma ancestral, para se esboçarem as
condições de um outro país possível, nem que seja por revelar uma trajectória
de partida. GAL é pura performatividade futurista.
GAL é um dueto que vive da interacção ao vivo de um
performer e de um músico que interpretam uma partitura, palavra falada
musicada. Vive da acutilância do texto, das palavras em liberdade, da
provocação sonora e do ressoar de uma guitarra. Vive de um certo humor negro
imanente, de um dinamismo assente na ironia, entre o inconformismo do texto e a
expressão libertária da música produzida.
GAL é uma reperformance, um remake de uma performance
realizada em 2006. É o ponto de partida de uma dilogia imaginada entre o
imediatamente político e o sempre político. Gal é o imediatamente político.
Advoga, portanto, a impossibilidade em se escapar à tomada de posições,
qualquer que seja a linha de fuga. A segunda performance da dilogia, para
breve, só o voo do nonsense o dirá.
GAL parodia a recente moda das reperformances na medida
em que o artista original cria um persona
para enquadrar a sua proposta enquanto reperformance. Por um lado, o novo
contexto sociopolítico autojustifica a pertinência de retomar as Farpas, na mesma medida que em 2006
(data do original) também o justificou. O texto de 1871, descarnado das
descrições da época mostram como num espelho as características da governação
portuguesa de hoje, provando o síndrome da não inscrição de que José Gil fala.
Por outro lado, a persona que o performer
inventa nesta reperformance assume-se como um privilegiado conhecedor da obra
do performer que o antecede, subtraindo, adicionando ou improvisando novas
possibilidades, entre a mimese-jogo e a emoção entranhada de vitalidade
genuína.
A performatividade futurista em GAL é reactiva à
constatação da realidade descrita pelas Farpas na primeira parte da
performance, uma reacção inconformada à inércia e passividade que caracterizam
os nossos tempos.
A segunda parte da reperformance GAL propõe parodicamente
um manifesto na medida em que parece ser hoje démodé fazer manifestos no seio
da arte. Na verdade encara-se aqui justamente o contrário. E assim, resgata-se
o manifesto como a potencial tendência de um novo acontecer.
O manifesto nómada tem a sua energia vital no fôlego
libertário, potencialmente emancipador, que propõe um saber-fazer que vai para
além da errância (que não tem um destino definido). Trata-se de um saber-fazer
que vê e que constrói um universo simbólico dos “espaços vazios”, os espaços
que estão à margem do ethos e da passividade portuguesa descrita nas Farpas, de
forma a tornar esses espaços vazios familiares, planeando a viagem de volta.
GAL propõe um novo começo que cada um pode produzir para
a sua vida, uma sabedoria ou um aprender a aprender a ultrapassar os muros que
o conformismo e o senso comum edificam dia após dia, acto após acto, por e
simplesmente como eles não tivessem lá.
Propõe uma trajectória em que os caminhos nunca estarão
cercados pela fortificação gigantesca idealizada pelo Estado. A nómada (ou o
nómada) deixa de ser vagabundo ou errante para ser uma esperança, ou um espaço
de possibilidade para uma outra mentalidade, para uma outra atitude perante a
vida.
FICHA TÉCNICA
Concepção, adaptação e direcção: Ricardo Seiça Salgado
Performers: Ricardo C’est ça | Bruno Relva
Fotografia: Pedro Medeiros
Concepção das garras: Sónia SP
Sonoplastia e luminotecnia: César Coelho
Produção: projecto BUH!
Apoios: Câmara Municipal de Coimbra; Ilídio Design;
mafia; RUC; Futebol Clube de S. Silvestre; NEXTPRINT
Agradecimento: Gabriel Cheganças, Irina Sales Grade.
Classificação etária: 18 anos
Duração: 60 minutos
Imprensa:
Espectáculos realizados:
ante-estreia: Ar de Rock Bar, Ançã - 20/12/2014
estreia: Salão Brazil, Coimbra - 24/01/2015
Festival Kamalhão Rock Fest, S. Silvestre, Coimbra - 4/07/2015
ante-estreia: Ar de Rock Bar, Ançã - 20/12/2014
estreia: Salão Brazil, Coimbra - 24/01/2015
Festival Kamalhão Rock Fest, S. Silvestre, Coimbra - 4/07/2015