2015

GAL

farpas para um país sem lobbies

foto © Pedro Medeiros

SINOPSE
GAL é uma leitura comentada d’ As Farpas de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão que em 1871 começaram a editar uns libretos mensais, dando conta da vida de Portugal durante 12 anos. A crítica à implacabilidade rude dessa vida claramente descrita e analisada impele elasticamente em imediata concordância para os tempos sociopolíticos de hoje, pelo que ninguém se livra de uma interpretação do vivido até às entranhas, do tempo que insiste em reproduzir as falácias do passado, mas que se quer libertar.
A contaminação impele a criação de comentários que se remixam até à formulação do manifesto nómada. Enquanto acto de liberdade, o manifesto homenageia o nomadismo como forma de vida marginal sem centro. É um grito da máquina de guerra do germoplasma ancestral, para se esboçarem as condições de um outro país possível, nem que seja por revelar uma trajectória de partida. GAL é pura performatividade futurista.

GAL é um dueto que vive da interacção ao vivo de um performer e de um músico que interpretam uma partitura, palavra falada musicada. Vive da acutilância do texto, das palavras em liberdade, da provocação sonora e do ressoar de uma guitarra. Vive de um certo humor negro imanente, de um dinamismo assente na ironia, entre o inconformismo do texto e a expressão libertária da música produzida.

GAL é uma reperformance, um remake de uma performance realizada em 2006. É o ponto de partida de uma dilogia imaginada entre o imediatamente político e o sempre político. Gal é o imediatamente político. Advoga, portanto, a impossibilidade em se escapar à tomada de posições, qualquer que seja a linha de fuga. A segunda performance da dilogia, para breve, só o voo do nonsense o dirá.


foto © Pedro Medeiros

GAL parodia a recente moda das reperformances na medida em que o artista original cria um persona para enquadrar a sua proposta enquanto reperformance. Por um lado, o novo contexto sociopolítico autojustifica a pertinência de retomar as Farpas, na mesma medida que em 2006 (data do original) também o justificou. O texto de 1871, descarnado das descrições da época mostram como num espelho as características da governação portuguesa de hoje, provando o síndrome da não inscrição de que José Gil fala. Por outro lado, a persona que o performer inventa nesta reperformance assume-se como um privilegiado conhecedor da obra do performer que o antecede, subtraindo, adicionando ou improvisando novas possibilidades, entre a mimese-jogo e a emoção entranhada de vitalidade genuína.


A performatividade futurista em GAL é reactiva à constatação da realidade descrita pelas Farpas na primeira parte da performance, uma reacção inconformada à inércia e passividade que caracterizam os nossos tempos.
A segunda parte da reperformance GAL propõe parodicamente um manifesto na medida em que parece ser hoje démodé fazer manifestos no seio da arte. Na verdade encara-se aqui justamente o contrário. E assim, resgata-se o manifesto como a potencial tendência de um novo acontecer.
O manifesto nómada tem a sua energia vital no fôlego libertário, potencialmente emancipador, que propõe um saber-fazer que vai para além da errância (que não tem um destino definido). Trata-se de um saber-fazer que vê e que constrói um universo simbólico dos “espaços vazios”, os espaços que estão à margem do ethos e da passividade portuguesa descrita nas Farpas, de forma a tornar esses espaços vazios familiares, planeando a viagem de volta.
GAL propõe um novo começo que cada um pode produzir para a sua vida, uma sabedoria ou um aprender a aprender a ultrapassar os muros que o conformismo e o senso comum edificam dia após dia, acto após acto, por e simplesmente como eles não tivessem lá.

Propõe uma trajectória em que os caminhos nunca estarão cercados pela fortificação gigantesca idealizada pelo Estado. A nómada (ou o nómada) deixa de ser vagabundo ou errante para ser uma esperança, ou um espaço de possibilidade para uma outra mentalidade, para uma outra atitude perante a vida.



FICHA TÉCNICA
Concepção, adaptação e direcção: Ricardo Seiça Salgado
Performers: Ricardo C’est ça | Bruno Relva
Fotografia: Pedro Medeiros
Concepção das garras: Sónia SP
Sonoplastia e luminotecnia: César Coelho
Produção: projecto BUH!

Apoios: Câmara Municipal de Coimbra; Ilídio Design; mafia; RUC; Futebol Clube de S. Silvestre; NEXTPRINT
Agradecimento: Gabriel Cheganças, Irina Sales Grade.

Classificação etária: 18 anos

Duração: 60 minutos

Imprensa:

Espectáculos realizados:
ante-estreia: Ar de Rock Bar, Ançã - 20/12/2014
estreia: Salão Brazil, Coimbra - 24/01/2015
Festival Kamalhão Rock Fest, S. Silvestre, Coimbra - 4/07/2015